quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Aquele que ensina

Rubem Alves diz em seu livro Conversas sobre Educação que "...frequentemente se aprende uma coisa de que não se gosta por se gostar da pessoa que a ensina." Concordo plenamente com ele. No contexto escolar, o professor e o modo como ele dá aula são essenciais para a aprendizagem do aluno. Vou além do que ele disse e digo que, da mesma forma, frequentemente não se aprende uma coisa de que se gosta por não se gostar da pessoa que a ensina.
Estou cursando uma matéria da faculdade da qual eu pensei que fosse gostar muito. Ela fala sobre um tema que eu gosto muito, então não teria porque eu não gostar dela. Acontece que eu não gostei do professor. Quer dizer, gostei dele como pessoa, mas não do modo como ele dá aula. Ele passa a aula fazendo um monólogo sobre teorias e críticas e apesar de pedir que os alunos participem ele não cria oportunidades para isso. No começo do período ele estava nos passando o texto apenas depois de já tê-lo explicado todo! Como os alunos serão capazes de participar e contribuir para a aula se não tiveram contato com o texto sendo trabalhado?
Agora, apesar de disponibilizar o texto a ser trabalhado antes da aula, ele passa tanto texto que nós não temos condições de ler todos e acompanhar a aula e acabamos mais uma vez calados, expectadores, esperando que ele passe sua sabedoria para nós. Não sei quanto aos outros alunos, mas me sinto muito perdida nessa matéria. Não sei se o conhecimento está muito acima da minha capacidade (Piaget diz que só somos capazes de adquirir conhecimento novo se já possuímos a estrutura necessária para que ele seja absorvido - talvez esteja faltando a mim alguma estrutura). Não sei se fui me perdendo no desentusiasmo. O que sei é que me sinto muito frustrada. Sinto que o conhecimento está logo na minha frente, mas eu não consigo alcançá-lo por que simplesmente não consigo me concentrar nas aulas. Isso é culpa minha? Eu tenho algum déficit de atenção? Creio que não. Consigo me concentrar em outras aulas, por que não nessa?
Me pergunto como é o processo seletivo para professores, no caso, de universidades. Acredito que o que mais importa são as pesquisas realizadas, artigos publicados, palestras dadas, seminários organizados... as experiências (escritas em papel). Provavelmente também deve-se discutir alguma linha de metodologia didática adotada pelo professor, certo? Mas essa não parece ser a prioridade. Na minha opinião, para aprovar um professor é preciso vê-lo em ação, dentro da sala de aula, com alunos. Como ele age e se comporta então? Para mim isso é o mais importante. Um professor que sabe motivar os alunos, fazer eles se interessarem pela sua matéria, vale mais, na minha opinião, do que um que publicou 50 artigos acadêmicos, mas chega na sala e fala ininterruptamente até o final da aula.
No entanto, não é assim que funciona. Como diz Rubem Alves, no mesmo livro, "Os raros professores que têm prazer e se dedicam aos seus alunos estão perdendo o tempo precioso que poderiam dedicar aos seus artigos."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Revolução Industrial

Hoje eu estava ajudando umas das alunas para quem dou aula particular com seu dever de matemática. Ela está aprendendo equações. A professora a ensinou a sempre colocar as letras (X, Y...) do lado esquerdo da equação e os números naturais do lado direito. Pois bem.
Hoje ela havia descoberto o X de um equação (= 38) e ia inserí-lo em uma outra para descobrir o Y.
2X - 40 = Y
Ela inseriu o X=38, e então a equação ficou:
2 . 38 - 40 = Y
E portanto,
76-40=Y
E então, ao invés dela concluir que 36=Y, ela inverteu a equação e colocou o Y do lado esquerdo assim:
-Y= -76+40
tornando a equação muito mais complicada. Ela não percebeu que para chegar ao resultado só precisava subtrair 40 de 76. Ela estava fazendo como a professora havia ensinado e colocando o Y do lado esquerdo. Ela não percebeu que nessa equação isso não era necessário. Isso mostra que ela não tinha realmente aprendido a lógica das equações,a lógica daquelas contas. Ela memorizou o método de se chegar ao resultado ensinado pela professora e simplesmente o reproduziu.
Acho que isso não é exatamente novidade, mas essas pequenas situações do dia a dia me lembram de como as escolas (pelo menos a grande maioria delas) estão transformando os alunos em máquinas de reprodução. Viva a nova Revolução Industrial!

Para que estudar?

Outro dia meu irmão de 14 anos me perguntou como eu estudo, como eu faço para tirar boas notas. Ele tinha acabado de receber uma prova de história na qual tinha tirado uma nota ruim e estava se sentindo mal. "Eu sei que eu preciso começar a me esforçar agora. Se eu não começar a estudar direito agora eu vou me dar mal no futuro." Foi isso o que ele me disse.
Fiquei com pena dele. Para ele, a escola, o estudo, todo o processo de "aprendizagem" é voltado para o "futuro" - ou seja, provas, vestibular, faculdade... Tentei explicar para ele que esse não é, ou não deveria ser, o propósito de estudar e aprender. Ele deveria estudar algo porque tem curiosidade de saber, porque o objeto de estudo será essencial pra sua vida ou porque o novo conhecimento o fará feliz. Disse que para ele aprender algo, o conteúdo precisa fazer sentido para ele, para que possa se transformar em conhecimento. Mas como fazer ele compreender isso se está desde os 5 anos de idade inserido em um método tradicional de ensino? Como convencê-lo de que ele precisa se interessar pelo conteúdo a ser aprendido para que esse de fato seja aprendido e não apenas memorizado? Até hoje nenhum professor perguntou a ele o que ele deseja aprender, sobre o que tem curiosidade de saber mais. Na escola sempre lhe foram empurrados, jogados, vomitados conteúdos considerados "fundamentais" pelo sistema educacional. Fico com vontade de dizer que se ele não se interessa por esse assunto específico de história que ele não deveria ficar lutando para compreendê-lo. Que seria melhor se ele usasse esse tempo perdido, sim perdido, de memorização de um conteúdo inútil para ele, lendo um livro que o agradasse. Mas como ficam as notas? O boletim? Futuramente o vestibular e o ingresso na faculdade? E a inserção no competitivo mercado de trabalho? Ele quer estudar fora, nos Estados Unidos. Seu sonho é ser jogador de basquete da NBA. Para isso precisa de boas notas na escola para tentar uma bolsa em uma universidade americana.
É, meu irmão tem apenas 14 anos e já está estressado com a pressão social para arranjar um emprego.

Primeira Postagem

Decidi criar esse blog para postar experiências e reflexões, minhas e de outras pessoas, a respeito do tema Educação. Como estudante de Licenciatura e futura professora, acho muito importante pensar a respeito desse tema agora, para que no futuro eu possa ser a melhor professora o possível. Quero compartilhar minhas descobertas com outros, para poder trocar ideias e quem sabe ajudar na formação da ideia de Educação - ideia essa que é extremamente complexa de se definir - de outros professores, futuros professores ou interessados no assunto.